Com o crescimento da produção agroecológica no entorno das cidades no litoral norte do Rio Grande do Sul, os consumidores em parceria com as organizações locais e os agricultores resolveram estimular ainda mais a produção de alimentos saudáveis. Através dessa articulação nasceu a ideia de criar cooperativas de consumidores orgânicos, de modo a garantir o produto para consumidores e a produção para os que vendem, espelhadas no modelo da Coopetativa Coolméia de Porto Alegre.
Durante a caravana agroecológica visitamos duas dessas experiências. A Cooperativa dos Consumidores de Produtos Ecológicos Três Cachoeiras (Coopet) nasceu há 15 anos do desejo das pessoas da cidade de consumir os produtos que viam passar pela rodovia em direção a capital do estado, onde agricultores e agricultoras da região comercializam seus produtos todos os sábados. Se articularam para montar um ponto de vendas que estivesse aberto de segunda a sábado. A produção é adquirida principalmente da região mas também de outros grupos da Rede Ecovida de Agroecologia. Começaram comercializando os produtos com o preço normal, depois adotaram o sistema de sócios com pagamento de uma taxa mensal (R$ 35,00) para manter os funcionários e o local. Os outros consumidores pagam um valor um pouco maior nos produtos. Atualmente são quase cem sócios para manter o funcionamento, muitos deles agricultores que também buscam uma alimentação saudável e o estímulo da iniciativa.
“Essa organização mostra que já estamos bem cientes do que queremos, é uma orquestra com esse monte de músicos na região: agricultores, professores, consumidores, etc. É a festa da vida, estimula muito mais os agricultores porque já tem uma venda garantida”, disse Sidilon Mendes, sócio-fundador.
Os produtores entregam diretamente na loja, que faz parte da Rede Ecovida. Quem estabelece o preço é o próprio agricultor. Tem duas funcionárias em horário comercial, além das verduras, frutas e hortaliças vendem também produtos industrializados, principalmente integrais. No Rio Grande do Sul e Santa Catarina a Coopet foi a pioneira e inspirou outras iniciativas na região.
Eco Torres
Há treze anos, fruto de uma mobilização de pessoas da cidade, a Ecotorres também buscou apoio do Centro Ecológico, organização não-governamental que atua na região, para estabelecer um ponto de vendas de produtos orgânicos.
É muito importante colocar à venda esses produtos aos consumidores, disse Marta Bergamo, produtora e membro da coordenção. “A gente tem um retorno em relação à qualidade dos produtos, que nos estimula e nos faz crescer. Aproxima justamente ao que é nosso objetivo, e o que nós queremos para nós mesmos. Tomara que essa cooperativa de consumidores seja algo presente em todos os lugares possíveis, embora a administração exija bastante tempo. Trabalhar junto sem dúvida é a solução: cooperativa, produtores e consumidores”, falou Marta. A Ecotorres tem alguns diferenciais. A parceria com uma sorveteria local, vizbilizou a produção de sorvetes de frutos nativos, como açaí de juçara, araçá, butiá, guabiroba, dentre outros.
A cooperativa tem um conselho administrativo e também pessoas que apoiam e se revezam para colaborar nas lidas de administração e manutenção organização. São cento e quatro “associados”, pessoas que estão em busca de uma alimentação mais saudável, mas também colaborar com o meio ambiente bem como para a permanência dos agricultores familiars no campo. Os consumidores acompanham, inclusive, o processo de certificação participativa dos produtos, pois faz pé membro do Núcleo Litoral Solidário da Rede Ecovida de Agroecologia. Havia um sistema de desconto de 10% para os associados, mas infelizmente o retorno das vendas não era suficiente para cobrir os custos da loja. Hoje todos consumidores pagam o mesmo valor pelos produtos.
“As dinâmicas dos municípios são muito diferentes, em Três Cachoeiras é uma população menor mais próxima e não tem a característica turística da cidade de Torres, que é um balneário. Agora estamos fazendo um recadastramento dos associados, pois vivendo hoje uma situação mas favorável, está sendo discutida a possibilidade de algum desconto para os associados, valorizando sua pertença à Cooperativa – então cada lugar tem sua dinâmica. Aqui em Torres, por exemplo, tem a feira ecológica e pensamos que mas quanto mais espaços para apresentação do produto ecológico melhor. A Ecotorres também fica cheia mesmo no sábado de manhã quando ocorre a feira”, disse Ana Luiza Meirelles, associada da Ecotorres e da equipe técnica do Centro Ecológico .
“Nós não queremos ficar ricos com isso, imagina com cento e quatro associados se você tirar o lucro no final não dá cem pratas para cada um. A ideia é ter um local de produto saudável para a população, e que as pessoas consumam alimento orgânico. A satisfação é você saber que as pessoas estão se cuidando”, disse José Alberto Johan, coordenador geral da Cooperativa.
O abastecimento das verduras ocorre três vezes por semana. Procuram fazer pesquisa de preço para não sair muito do comum, e afirmam que só agora as pessoas estão percebendo a diferença. Alegam que o agricultor tenta manter uma regularidade, certo compromisso com o consumidor, para garantir seu ponto de venda.
“O abastecimento é a base das cooperativas, tem demanda mas não tem produção suficiente para abastecer os espaços de comercialização que estão aparecendo. A história do circuito de pequenos mercados, onde entram as cooperativas, é preciso fazer um planejamento incluindo as cooperativas de consumidores”, Silvana Ferrigo, da Acevam.