A Associação das Mulheres para o Desenvolvimento Comunitário de Três Forquilhas (Amadecom) processa açaí de juçara, sucos, biscoitos, bolos e outros produtos. Fica na comunidade Boa União, uma Área de Preservação Ambiental (APA), no litoral norte do Rio Grande do Sul. Nasceu nas missões religiosas em 1998, com o apoio de um padre na questão ambiental da região. Começou com vinte duas mulheres com forte intenção de preservação da saúde e meio ambiente. A partir daí se aproximaram do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), aprenderam com elas a plantar, colher, fazer a prevenção da saúde, conhecer seus corpos, as plantas medicinais, dentre outras coisas. A necessidade de gerar renda continuou impulsionando o grupo e as parcerias foram ampliadas e fortalecidas.
“Entrei nisso para contribuir na renda de casa, até para a minha auto estima, meu marido ficava descontente de eu sair e só gastar sem botar nada em casa. Isso não só para mim, mas também para minhas companheiras. Precisava ter para ajudar dentro de casa”, disse Celi Aguiar, da coordenação do MMC e sócio fundadora da associação.
A agroindústria delas é registrada na Vigilância Sanitária e no Ministério da Agricultura, estão pensando em fazer um lote de embalagens com a marca da polpa da juçara. Conheceram no ano 2000 o Centro Ecológico, organização que apoia e assessora agricultoras e agricultores na região, e realizaram o primeiro curso de formação também com atividades culturais. Até 2006 fizeram muitas festas, mas muitas integrantes saíram devido ao preconceito de seus maridos ou ao desinteresse, pois não viam perspectiva financeira. Receberam aulas sobre drogas, meio ambiente, recuperação de áreas, dentre outras coisas.
“Em 2006 foi o primeiro projeto do PAA, durante dezoito meses com o Fome Zero, produzíamos pães, massa, bolacha, etc. Três caminhões cheios para três creches e mais alguns colégios. Primeira vez que botei um dinheirinho no bolso, mas foi por pouco tempo porque nos denunciaram por falta de alvará de saúde. Só nesse ano voltamos, e ganhamos um prêmio por sermos as primeiras agricultoras a fornecer alimentação para escola no estado”, explicou Celi.
A partir de um projeto articulado pelo Centro Ecológico, adaptaram e re-construíram a agroindústria de acordo com as normas da Vigilância Sanitária. Contaram também com o apoio da Share do Canadá para a compra do forno e pagar a mão de obra, As máquinas de fazer massa, batedeira e outras ferramentas foram adquiridas pelo MMC via PDA. Foi então que começaram a trabalhar com o açaí de juçara – espécie chave na preservação da Mata Atlântica, tão importante na região. “Agora caiu a ficha, é excelente, bom para saúde, bom para o bolso, para o meio ambiente, etc.” Em maio ganhamos uma licitação para o PNAE de 32 mil pãezinhos de 100g até outubro, mas conseguimos diminuir para 17 mil. Nos desafiamos e trabalhamos que nem doidas, se você entra num projeto desse tem que cumprir e dar conta da tarefa. Deu um dinheirinho mas é muito sofrido, é muito melhor produzir a polpa do açaí”, reforçou a agricultora.
As mulheres da Amadecom criticam as dificuldades enfrentadas para conquistar os registros para processamento da polpa de juçara. Se por um lado as agricultoras são ótimas com a mão na massa, por outro não entendem a parte burocrática do projeto, têm dificuldade com a escrita e não há sensibilidade do poder público. Não têm celular, internet, e ainda assim lhes são exigidos vários documentos, muitos deles seguindo o modelo dos grandes empreendimentos, o que lhes traz ainda mais problemas. Sem uma assessoria técnica, desabafam, seria impossível aprovar projetos e tocar o negócio.