IMG 2820Foram necessárias mais de duas décadas de luta dos agricultores e entidades da região do Bico do Papagaio para a criação da Escola Família Agrícola Padre Josimo, em Esperantina (TO), próxima aos rios Araguaia e Tocantins. Os cursos serão focados em agroecologia para manter os jovens no campo. A Caravana Agroecológica e Cultural do Bico do Papagaio inaugurou suas instalações, mas ainda falta a contratação de professores e indicação de funcionários para o início das aulas.

 

A vereadora Cícera Soares (PT-TO) de Esperantina, assentada e vice presidente do sindicato regional, ressaltou que a área  do bico do papagaio é marcada pelo conflito de terra e a resistência dos moradores, hoje também ameaçados pela UHE de Marabá.

“Estamos lutando para trazer nosso curso para cá, mas sabemos que não é fácil. É na política onde será discutido nosso espaço e caminhada. Aqui era uma cerraria dos fazendeiros onde eles tramavam para prejudicar os trabalhadores. Queremos implantar a educação do povo, uma conquista dos movimentos sociais. Nada é por acaso, e temos responsabilidade”, disse Cíça, como é chamada a vereadora.

A EFA foi pensada numa região com muitos assentamentos. Os recursos financeiros para sua construção foram aplicados pelo Território da Cidadania do Bico do Papagaio, que é composto por 25 municípios. Desta forma, é uma escola que atenderá os jovens rurais de todos os municípios que compõe o Território. Sua proposta é um ensino diferenciado aos agricultores familiares em contraponto ao agronegócio.  Vai funcionar do 6° ao 9° ano, e os jovens só saem no fim de semana.

IMG 2822“Estamos quebrando as barreiras, de mãos dadas vamos mais longe. Passaram mais de dois prefeitos para terminar essa escola, agora falta só o documento para liberar seu funcionamento e fazer o registro para contratação dos profissionais. Fizemos a formação dos profissionais de educação do campo diferenciada, são as pessoas mais adequadas. Não podemos deixar os tubarões comerem os peixes pequenos”, disse o presidente no sindicato.

Raimunda Nonata, quebradeira de coco da comunidade Olho D’Água, é diretora da EFA. “Foi uma luta que vinha há muito tempo, é uma necessidade nossa antiga. Na escola dos nossos filhos não ensinam o respeito à natureza. Muitos jovens vão para as grandes cidades, porque acham que aquela terra não vai dar o suficiente para todos”, disse.

A realização da Caravana Agroecológica, que está no processo nacional de agroecologia, na EFA é muito importante para sua constituição histórica. O local será também um centro de formação dos agricultores para o desenvolvimento comunitário. O terreno foi conquistado em 2006, todo esse processo está registrado numa memória visual. As pessoas foram chamadas para a construção coletiva, por meio do mutirão e doações, inclusive com intercâmbio de jovens para enriquecer as discussões. Houve um diálogo sobre a educação do campo junto aos gestores. As obras começaram em 2008 num convênio com a Caixa Econômica Federal, e foram feitas denúncias de irregularidades devido ao atraso do projeto.

IMG 2868Houve apenas sua inauguração política. É a primeira com pedagogia da alternância na região, e a associação de pais está na administração mas o estado tem que contratar os professores e a corpo técnico e administrativo da escola. A associação selecionou uma equipe com capacidade técnica e compreensão política para atuar com a pedagogia da alternância, o Estado já publicou o convênio entre a escola e a secretaria estadual de educação, mas não quer acatar a equipe selecionada, segundo os moradores. Tal situação se deve a interferência do Deputado Estadual Amélio Cayres, que é da região e quer indicar as pessoas a serem contratadas, criticaram. A escola deveria ter iniciado as aulas em fevereiro de 2013, os estudantes estão aguardando e a secretaria de educação do Estado não quer contratar a equipe selecionada.

“Estamos enfrentando problemas com relação à estrutura. Queriam tirar sindicalismo e cooperativismo do programa, e não entendem a alternância então tem dificuldade para contratar os professores. Não aceitaram nossa grade curricular, e o Conselho já proibiu aula à noite. Falta também nossa parceria com o instituto federal, eles se comprometeram em doar matrizes vivas para o laboratório”, disse a professora Sueli.

Neutralizar a interferência política na contratação da equipe da escola é o principal desafio atual. No dia 13 de novembro haverá uma reunião entre a secretaria estadual de educação e todos os movimentos sociais do campo do Estado para tentar resolver esta questão. A EFA é uma das estratégias na formação dos moradores da região, busca uma formação por meio de pessoas que entendem a realidade local. A falta de transporte será mais uma dificuldade a ser enfrentada.

“Numa escola tradicional o professor só participa na hora de dar aula, mas na EFA você se envolve com o estudante porque acredita que ele pode mudar a situação onde vive. Contribuímos para formação deles e suas famílias, principalmente pela pedagogia da alternância”, disse um participante da caravana.