Alguns trocaram sementes, outros levaram plantas medicinais e todos aprenderam uns com os outros, principalmente os agricultores que visitaram as experiências agroecológicas e os que receberam os participantes. Essa é a avaliação de quase todos que estiveram presentes na Caravana Agroecológica e Cultural do Mato Grosso, realizada entre os dias 29 de outubro a 01 de novembro. O Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (Gias), que anima as iniciativas agroecológicas no estado, também sai fortalecido do evento, assim como a rede de troca de sementes crioulas e os processos de articulação em preparação ao III Encontro Nacional de Agroeocologia (ENA).
O intercâmbio entre os agricultores, lideranças de movimentos e técnicos foi o principal fruto das atividades. O diálogo de saberes e sabores em torno das características locais da região promoveu a ampliação nos horizontes de muitos que lidam com a terra. O conhecimento sobre o plantio de hortaliças e frutos do cerrado, por exemplo, foi bastante discutido, além das políticas públicas que envolvem os interesses dos camponeses.
“É muito bom para aprender mais coisa da agricultura, conheci a cultura de outros povos. Também não conhecia esse lugar. Gostei da comida, nunca tinha comido os produtos do cumbaru ou babaçu, por exemplo. É interessante ver que alguns frutos dão comidas tão gostosas. Não tenho do que me queixar, no geral foi bom, aprendi que estava botando adubo orgânico em excesso na terra”, disse Gentil Lober, agricultor de 40 anos que tem um sítio na região norte matogrossense.
O indígena Zezinho, da etnia Negarotê/Nambikwara, também sempre trabalhou com agricultura e observou que a forma de plantio deles em relação aos brancos é a mesma. “A forma da atividade é igual a nossa cultura, a gente combate a poluição e o uso de venenos. Lá também tem muita soja, que contamina a água e os peixes. Não tem diferença de plantar, só não sabia de uma planta que vira adubo… Lá nós faz roça de toco, que de 5 a 10 anos muda. Temos remédios do mato com casca, milhos que plantamos todo ano. Gostei muito da caravana, ver as plantações, os lanches e frutas”, afirmou.
“Conhecia coisas que eu nunca tinha visto antes, como a jabuticaba do cerrado”, disse outro agricultor. Segundo Eloisa Cruz de Melo, também camponesa, as mulheres estão começando a enxergar a independência delas. “Quero agradecer de coração o que eu vi, ouvi e comi aqui no cerrado, é uma coisa maravilhosa. Eu ajudo a reflorestar mais de 200 hectares, a gente tem que preservar. Lutar e mexer com a terra. Chega de mulher queimando a barriga na cozinha. Aprendi muitas coisas, e vou levar para o meu povo”, disse.
Integrante da Associação Regional de Produtores Agroecológicos (ARPA), uma das experiências visitadas na caravana, Laurindo Pereira, agricultor familiar disse que é importante esse tipo de evento e um bom sinal para fortalecer o trabalho deles. “Ver como tem pessoas interessadas em conhecer, é uma riqueza muito grande. Sempre tem pessoas que saem também para conhecer outros territórios, essa troca é muito importante para aprendermos. Vocês também podem. Precisamos agora de um caminhão refrigerado, porque entregar nas escolas estraga muita coisa no caminho. Levar esse conhecimento para o resto do país”, destacou.