logo eiaAs primeiras palestras do III Encontro Internacional de Agroecologia (EIA) deram o tom que deve permear os demais dias do evento. A abertura aconteceu na quarta (31), no Ginásio do Colégio Santa Marcelina (leia aqui). O III EIA segue até sábado, 3 de agosto, em Botucatu-SP.

A primeira palestra foi do professor da Angell Calle Collado, da Universidade de Córdoba, que falou sobre “Democracia Radical e Movimentos Sociais na Construção da Transição Agroecológica”. De acordo com ele, os movimentos sociais em todo o mundo demonstram que a sociedade quer um novo modo de vida. “São movimentos em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo, todos estão descontentes com a forma que vivemos atualmente”.

Os “Desafios do Movimento Agroecológico: a soberania dos pequenos produtores de alimentos para a soberania dos povos frente ao capitalismo” foi o tema da plenária da professora Maria Noel Salgado, membro do Comitê Político Continental do Maela.

O economista João Pedro Stédile, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) falou sobre o ‘Campesinato Agroecológico e os Desafios e Possibilidades da Via Campesina’. Segundo ele, o agronegócio não produz alimentos e sim mercadorias, mecanizando o campo, investindo em monoculturas e patentes de sementes genéticamente modificadas com o objetivo de vender um pacote tecnológico e tornar os produtores dependentes. “No sentido agronômico é inviável a mistura de sementes caboclas com transgênicas”, diz.

Para o representante do MST, ninguém em sã consciência quer trabalhar para o agronegócio. “Quem quer viver jogando de veneno no solo?”, questiona. E acusa a grande Imprensa, “há na grande Imprensa o desejo de embutir no pensamento das pessoas que o agronegócio é a salvação para o Brasil, mas isso porque são todos grandes grupos econômicos”, lamenta. E criticou duramente as organizações do agronegócio. “O Blairo Maggi tem mais de 240 mil hectares de soja, sem nenhuma outra espécie ou praga, isso só se consegue com uso indiscriminado de venenos agrícolas, importados dos mais variados países do mundo. Esse tipo de negócio não se sustenta”.

A ativista indiana Vandana Shiva comentou sobre como deixou de lado sua formação como Física e começou a atuar como líder ambiental. “Houve uma grande tragédia na Índia, em 1984, mas o mundo pouco falou sobre isso”. A ativista citava a tragédia de Bhopal, um desastre industrial que ocorreu em 3 de dezembro de 1983, quando 40 toneladas de gases tóxicos vazaram na fábrica de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide. É considerado o pior desastre industrial ocorrido até hoje, quando mais de 500 mil pessoas, a sua maioria trabalhadores, foram expostas aos gases. Houve num primeiro momento cerca de 3 mil mortes diretas, mas estima-se que outras 10 mil ocorreram devido a doenças relacionadas à inalação do gás.

Desde de 83, Vandana dedica-se às causas ecológicas e agroecológica, bem como agricultura familiar e contra o uso de sementes transgênicas. “De acordo com a a ONU, 70% dos alimentos são produzidos pela agricultura familiar, é uma burrice expulsar as pessoas do campo para produção de combustíveis, e mercadorias agrícolas que não servem para alimentar a população. Querem transformar sementes em produtos, quando tudo isso já existia, isso é biopirataria”, explica.

Homenagem a Ana Primavesi marca abertura do III EIA

A abertura do III Encontro Internacional de Agroecologia, na quarta-feira (31), no Ginásio do Colégio Santa Marcelina, em Botucatu-SP, foi inesquecível. Da presença de personalidades da área e autoridades locais, nacionais e internacionais, à homenagem à professora doutora Ana Primavesi – considerada a precursora da Agroecologia, o evento foi marcado pela emoção, reconhecimento e pela grande troca de conhecimento e informações.

O vice-prefeito de Botucatu, professor Caldas, destacou que a Cidade discute e vive a Agroecologia e a agricultura familiar e orgânica. “A grandeza deste encontro (EIA) se confirma. Botucatu agradece pela parceria com grandes e importantes instituições para se firmar como uma Cidade importante no debate e aplicação da Agroecologia”.

O Professor da Universidade Berkeley (EUA) e coordenador da Sociedade Científica Latino-americana de Agroecologia, Miguel Altieri, reforçou que a transição agroecológica já começou na América Latina e que o III EIA é a oportunidade de continuá-la. “São pessoas e importantes organizações reunidas para finalizar essa transição”, disse.

Paulo Peterson, da Articulação Nacional em Agroecologia (ANA) destacou a importância que a Agroecologia está ganhando. “Está sendo incorporada por instituições e este encontro (III EIA) é importante por possibilitar o debate sobre esse momento de transição, em que o Governo Federal anuncia o lançamento do Programa Nacional de Agroecologia, e que ao mesmo tempo interrompe o programa de reforma agrária. É um momento de avanços e contradições”.

O economista João Pedro Stédile, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) cita que Botucatu é uma trincheira em defesa dos trabalhadores rurais e agricultores familiares contra o agronegócio. “Vamos salvar o planeta da ganância do Capital”.

O representante do Instituto Giramundo e organizador do III EIA, o doutor em Agroecologia, Rodrigo Machado Moreira, citou o crescimento do evento e do tema em relação às edições e anos anteriores, mas lamentou a situação global e nacional em relação ao Ensino da Ciência Agroecológica. “Em um momento em que o império do agronegócio expandiu do agro alimentar para o agro combustível, com a crise sócio-ambiental, no Brasil, mesmo com mais de 600 cursos superior de Ciências Agrárias temos que criar cursos de Agroecologia, pois a ciência parece ser a barreira mais lenta e incorporar os avanços”, declara. “Mas estamos em um momento muito importante para a agroecologia e e o crescimento e maturidade do EIA demonstram isso”.

(*) Divulgação III EIA.