Brasília – Primeiro músicas e poesia, depois entrega de produtos agroecológicos, assim foi recebida no I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) a presidente Dilma Rousseff, na tarde de ontem (19), em Brasília. Acompanhada de ministras e autoridades, ela saudou cerca de 3 mil camponesas do movimento e reafirmou o compromisso de seu governo com o combate à violência sofrida pelas mulheres no Brasil. Na ocasião foi assinado um acordo entre a Conab e o BNDES para o lançamento de um edital de R$ 23 milhões, que beneficia 100 cooperativas e associações de produtores rurais de base familiar, com prioridade para grupos de mulheres, produtores agroecológicos e povos e comunidades tradicionais.
Rosangela Piovesani, da coordenação do MMC, explicou que o encontro veio com o propósito de discutir os principais temas das trabalhadoras do campo no Brasil e outros países, que também estão representados. Ao reclamar do controle desigual dado às formas de produção da agricultura familiar, ela atentou para contribuição desse segmento na comida que vai para a mesa da família brasileira e também lembrou da pressão do movimento feminista na criação da Lei Maria da Penha. Piovesani ainda agradeceu e reconheceu o significado da presença da presidente com as ministras, e entregou uma carta a Dilma com as principais resoluções que deverão ser ratificadas no encontro.
“O MMC é um movimento de mulheres feministas, que trabalha em sua luta pela libertação das mulheres trabalhadoras. O sistema patriarcal ainda é muito forte. Existe um modelo de agricultura de exportação com uso abusivo de agrotóxicos e sementes transgênicas, que é um atentado à vida, à soberania do país e à sobrevivência do planeta. Defendemos um modelo com os princípios da agroecologia, de uma alimentação saudável. Há muita burocracia, apenas 3% das terras estão nas mãos dos mulheres. Precisamos avançar no crédito e outras coisas. Nessa trajetória tivemos avanços importantíssimos, como o PAA e o PNAE, e estamos aqui para avançar mais”, afirmou.
Dilma orientou as ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos), Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Eleonora Menicucci (Mulheres) a ficarem atentas e auxiliarem as mulheres a uma forma de acesso mais fácil à proteção que o Estado brasileiro. ”. Falou também da importância da alimentação saudável e agroecológica produzida pelas mulheres camponesas, e repetiu o slogan do encontro: “na sociedade que a gente quer, basta de violência contra a mulher”
“Sabemos que acabar com a violência contra a mulher exige permanentemente que nós estejamos todas atentas para reprimir de forma dura e incansável a violência física. Exige também combater a violência da exclusão, da desigualdade, da restrição e da perda de autonomia das mulheres. E, sobretudo, exige que tanto da parte do Estado quanto da parte da sociedade nós sejamos atentas, presentes e atuantes para garantir suporte à mulher que sofre violência”, destacou a presidente.
Dilma ressaltou ainda que um dos seus compromissos é honrar as mulheres do Brasil, pois graças a elas está hoje na Presidência da República, e as convidou para aderirem ao edital recém lançado. “Vamos financiá-las, dar dinheiro para vocês, porque com isso estaremos incentivando uma maior autonomia. Acredito que a ação associativa de uma cooperativa tem também o poder imenso de organizar a participação da mulher”, e complementou: “O Brasil precisa da mulher camponesa na sua condição de cidadã e não somente na condição de produtora. Precisa da sua inteligência, força, experiência e coragem para continuar avançando na construção de uma sociedade em que a igualdade entre homens e mulheres seja regra e não exceção”.
A ministra Eleonora Menicucci mencionou a coincidência do ano do encontro do MMC com os dez anos de criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, e elogiou o ex presidente Lula por sua sensibilidade em criar a pasta e perceber a importância da mulher. Ela se comprometeu a ampliar os instrumentos de estímulo à autonomia econômica e multiplicação das organizações econômicas de mulheres. “A violência, foco do encontro, afeta todos os segmentos femininos. É preciso compreender o alcance e ouvir as lideranças dos movimentos. Chama atenção a convergência entre as suas propostas e as do governo. Precisamos de um Brasil mais humano, justo e democrático”, afirmou.
A questão da violência contra a mulher também foi tratada por Rosângela Piovesani Cordeiro, integrante da coordenação do Movimento Nacional de Mulheres Camponesas. “Ajudamos a construir a Lei Maria da Penha, agora precisamos da sua implantação de fato. Pela distância, pelo isolamento dos rios e das florestas, no campo é muito difícil chegar a uma delegacia. Além disso, as delegacias comuns são muito mal preparadas, não existem equipes multidisciplinares para cuidar das mulheres”, disse Rosângela.
Dilma, por sua vez, afirmou que existem atualmente quase mil serviços de atendimento a mulheres vítimas de violência espalhadas em todo o Brasil. Ela observou que o serviço Ligue 180, feito para receber denúncias das vítimas de agressão, já ultrapassou a marca dos três milhões de ligações recebidas: “Além disso, o INSS está acionando a Justiça para exigir que os agressores sejam responsabilizados financeiramente por seus atos de violência contra a mulher”, concluiu.
(*) Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / ABr.