Com o tema “Na Sociedade que a Gente Quer, Basta de Violência contra a Mulher!”, cerca de três mil mulheres camponesas, de vinte e dois estados do Brasil, fizeram na tarde de ontem (18) a abertura do I Encontro Nacional do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC). O evento conta com a participação de diversos movimentos sociais, inclusive de outros países, sindicatos, parlamentares, representantes de órgãos do governo e setores da pesquisa, dentre outros segmentos. A maioria das delegações estaduais do MMC está alojada no próprio Pavilhão de Exposições no Parque da Cidade, em Brasília, onde as atividades estão ocorrendo. O evento vai até esta quinta-feira (21), quando será realizada uma marcha à Praça dos Três Poderes.
Na mística de abertura mulheres sujas de barro representaram a importância da terra para a vida camponesa, enquanto outras carregavam bandejas com frutas e legumes, em referência à alimentação saudável, outra bandeira do movimento. Delegações de outros países foram saudadas, e dezenas de movimentos sociais e integrantes do governo foram chamados ao palco para manifestar solidariedade ao MMC. Também foi aberta a Mostra de Produção das Mulheres Camponesas, com barracas vendendo produtos das comitivas dos estados participantes, incluindo artesanatos, alimentos e roupas.
Cantando muitas músicas e com muita descontração, o movimento foi expondo algumas de suas pautas aos participantes: transformação da sociedade, igualdade de gêneros, combate à violência contra as mulheres, valorização do trabalho feminino na produção de alimentos, soberania alimentar e combate aos transgênicos e agrotóxicos, defesa da agroecologia, reforma agrária, etc. A diversidade somada entre os movimentos de mulheres, como as sem terra, ribeirinhas, agricultoras familiares, quebradeiras de coco, índias, quilombolas, dentre muitos outros setores, marca a identidade do movimento.
De acordo com a coordenadora do MMC, Justina Cima, as mulheres estão unidas em torno de um projeto de sociedade que valorize as pessoas e a natureza, e promova o bem estar. A expectativa é que as mulheres se desafiem, e levem para os seus grupos de base nos seus estados as lutas a serem travadas localmente. Cima destacou ainda a importância do encontro, “fruto da luta de muitas lutadoras que ousaram enfrentar o capital, ditaduras, o latifúndio e todo tipo de repressão e opressão”.
“Toda uma história de resistência, dizer que estamos aqui para continuar lutando. Fizemos a luta por nossos direitos, pela reforma agrária, aposentadoria e salário maternidade, dentre outras, para que nos valorizassem porque também temos capacidade para construir aquilo que é melhor para sociedade. Queremos outras relações de igualdade e dignidade. Somos frutos daquelas mulheres que foram guardiães de sementes, benzedeiras, produtoras de plantas medicinais, e da obra de arte da alimentação saudável. Lutar por outra sociedade, em que a agroecologia seja um projeto de vida”, afirmou a coordenadora do MMC.
A busca pela continuidade do planeta de forma harmoniosa e promovendo o debate contra a violência, que, ainda segundo a representante, é fruto do sistema capitalista, patriarcal e machista, é um dos objetivos do movimento. Reconhecendo avanços na luta por políticas públicas, o dever de cada integrante do MMC agora é fortalecer a articulação dos movimentos para pressionar o governo a mais conquistas para as mulheres do campo.
A presidente Dilma Rousseff é esperada no encontro hoje (19) à tarde, momento em que as camponesas apresentarão sua pauta de reivindicações. Além de debates ao longo da semana, haverá mostras de artesanato e comidas, apresentações culturais e oficinas. Será lançado um CD de músicas do MMC e elaborada ao final do evento uma carta do Encontro.