Em toda a América Latina, no âmbito da Rede Latino Americana contra Monocultivos de Árvores (Recoma), bem como na África, Ásia e Europa, o dia 21 de Setembro é o Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores. Estas que chamamos de ‘desertos verdes’.
No Brasil, as monoculturas químicas de eucalipto de rápido crescimento foram instaladas a partir dos anos 60. Depois de 50 anos, as plantações ocupam 6,5 milhões de hectares de norte a sul do país e deixam um claro rastro de destruição ambiental e violações de direitos humanos e sociais. Devastaram a Mata Atlântica e expulsaram povos indígenas e quilombolas do Norte do Espírito Santo e do extremo Sul da Bahia. Substituíram enormes áreas de Cerrado e provocaram imensa migração de camponeses e geraiszeiros do Norte de Minas e ao longo do Vale do Jequitinhonha. Invadiram vastas áreas de Mata Atlântica em São Paulo e Paraná, e ocuparam pastagens naturais no Rio Grande do Sul. Expandiram o rastro da insustentabilidade para novas fronteiras sócio-ambientais, na Amazônia, ao Sul do Pará e Noroeste do Maranhão, bem como áreas de transição no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Por onde se instala, a monocultura química provoca crise de abastecimento de água potável e insegurança alimentar e nutricional.
Apesar das constantes denúncias, nos três últimos anos o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou aproximadamente R$ 8 bilhões para financiar do plantio ao processamento industrial de eucalipto e o governo federal irá lançar um plano para mais do que dobrar a área de plantios nos próximos 20 anos. Além dos planos e políticas de financiamento, a expansão atual do modelo se sustenta em avanços tecnológicos com aumento do uso de químicos e experiências com árvores transgênicas; expansão do mercado consumidor em todo o mundo; mercado de Carbono e flexibilização da legislação ambiental, como é o caso do Código Florestal. Certificações, como o caso do FSC da Aracruz/Fibria/Veracel, realizadas recentemente pelo Imaflora, também estimulam o mercado ao dizer aos consumidores que não há problemas no consumo dos produtos com selos verdes de “sustentabilidade”.
Barrar a expansão das monoculturas de árvores no Sul e o consumo de papel e ferro-gusa por todo o planeta é tarefa urgente para a sobrevivência de povos tradicionais e da sócio-bio-diversidade, bem como para a Justiça Ambiental e Climática. Barrar a expansão do modelo é uma estratégia fundamental da resistência Norte-Sul, e condição de possibilidade de toda e qualquer transição. Os caminhos da transição para novos modelos de produção e consumo são diversos, muitos já vêm sendo experimentados: novas fibras, mercado local e regional, reconversão de áreas de eucalipto para Mata Atlântica e Cerrado, práticas agroecológicas, estudos de equidade ambiental…
A transição da monocultura da produção e consumo é, ela mesma, uma estratégia política de sócio-bio-diversidade. Entretanto, não pode haver transigência com as estratégias da economia verde, que apostam na expansão do modelo desde onde se deseja transitar. Soa como “limpar-se de lama, com mais lama”! Em comunhão com parceiros brasileiros da Rede Alerta contra o Deserto Verde e internacionais, a FASE saúda os povos, movimentos e organizações sociais em resistência contra a expansão desenfreada do modelo de produção e consumo de papel e produtos siderúrgicos. A articulação das lutas territoriais de resistência no Sul e das lutas por novos modelos de consumo no Norte continua sendo uma chave de transição.
*Para saber mais sobre o processo de certificação da FSC para Fibria/Aracruz Celulose, veja a carta pública da Rede Alerta Contra o Deserto Verde.
(*) Matéria reproduzida da Fase.