Por Helen Santa Rosa

Cerca de 150 geraizeiros do Norte de Minas,  envolvidos na luta pela criação da RESEX Areião Vale do Guará estão em Brasília para o Encontro e Feira dos Povos do Cerrado e anunciam que só deixarão a cidade após a assinatura do decreto de criação da RESEX. O processo  já se arrasta por 11 anos. Nesse tempo, grande parte do Cerrado foi destruído, comunidades tradicionais perderam seus territórios e várias nascentes d”água secaram em decorrência das monocultoras e explorações predatórias.

Os geraizeiros denunciam que nos últimos meses vem aumentando a pressão dos fazendeiros empresários na destruição dos últimos remanescentes de cerrados nos municípios de Montezuma, Vargem Grande do Rio Pardo e Rio Pardo de Minas, território que compreende a RESEX. Neste momento tratores estão desmatando com roçadeira cerca de 600 ha onde o cerrado encontra-se em pleno processo de regeneração com centenas de pés de piqui, mangaba e pana,  no divisor de águas das nascentes do Córrego do Guará com o Córrego Roça do Mato.

A área em questão está localizada em torno do ponto GPS – Coordenadas UTM 23 L – Longitude UTM 777975.00 m E; Latitude UTM 8302168.00 m S. Nos últimos tempos os moradores  denunciaram uma tentativa de ocupação do Areião por empresários que retornaram demarcando uma área de cerca de 1.000 ha para plantio de eucalipto. Há menos de um mês fizeram uma pulverização aérea com agrotóxicos nas imediações do P.A. Vale do Guará, divisa dos municípios de Vargem Grande com Montezuma.

As lideranças geraizeiras informam que não aceitam mais a demora do ICMBio na criação da RESEX / RDS Areião Vale do Guará. Na área da RESEX moram cerca de 450 famílias que cuidam do Cerrado. Os geraizeiros  estão participando de forma massiva no Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, que começou ontem em Brasília e segue até o dia 16 de setembro, aguardando com muita expectativa o decreto de criação das Reservas Extrativistas pela presidenta Dilma Rousseff.

A pressão sobre os últimos remanescentes dos cerrados é imensa e eles já estão cansados de fazer resistência local, parando máquinas, destruindo fornos de carvão ilegais, enfrentando grileiros. De acordo com as lideranças, não querem apenas discursos e promessas. Só vão sair de Brasília com a Resex Areião Vale do Guará criada. E com encaminhamentos concretos para as outras cinco áreas demandadas em Minas Gerais.

“Romaria do Areião” – Pela vitória dos Povos do Cerrado! Pela conquista de Resex do Areião!

No extremo norte do Estado de Minas Gerais, a Serra do Espinhaço atravessa a região e adentra pelo Estado da Bahia. Em suas altas chapadas e topos de morro predominam os cerrados e campos rupestres, ambientes que fazem contato com regiões de caatinga e mata atlântica. Pois aí vive um povo tradicional conhecido regionalmente como Geraizeiro cujo modo de vida está assentado no cultivo de pequenos roças extremamente diversificadas associadas com a coleta de frutos, plantas medicinais, flores silvestres e a criação de animais em áreas comunais.

Os Geraizeiros que vivem entre os municípios de Rio Pardo de Minas, Montezuma e Vargem Grande do Rio Pardo travam uma luta que já dura mais de 30 anos contra o avanço das monoculturas de eucalipto e, agora, contra a mineração que ameaça tragar suas terras. Na luta pelo reconhecimento de seus territórios tradicionais, mulheres, crianças e homens fazem a linha de frente de defesa de seu bioma, policiam e cuidam de um vasto território que vai desde o Areião, passando por Riacho de Areia, Roça do Mato, Vale do Guará até Vargem do Salinas, região de onde sempre viveram. A mobilização é pela criação de uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável (Resex) que é proposta como uma garantia legal de preservação de seus territórios e do modo de vida geraizeiro.

Para os geraizeiros o território do Areião tem um sentido místico e religioso, e este filme conta a caminhada dessas populações e de suas crenças rumo a um mundo que acreditam.

(*) Fonte: Racismo Ambiental.