rede sementes livresPor Tadzia Maia,

Foi criada no dia 06 de agosto de 2012, no Vale Sagrado do Incas – Peru – uma rede para a defesa das sementes livres no continente americano. Representantes de organizações campesinas, educacionais, coletivos autônomos e diversos outros movimentos como a Rede de Guardiões de Sementes do Equador e da Colômbia e a RALLT (Rede da América Latina Livre de Transgênicos) estavam presentes às reuniões de formação da rede, que aconteceram durante o festival Kokopelli- PachaMama, realizado no dia 1 ao 7 de agosto na cidade de Ollantaytambo, a 2 horas de MachuPicchu.

O documento onde os primeiros integrantes da Rede formalizaram seus princípios prevê sobretudo a valorização guardiões e guardiãs autônomos de sementes e seus coletivos e associações, reclamando o direito que possuem de produzir e comercializar sementes livremente, tendo como base modelos agroecológicos e solidários.

A ideia principal dos signatários foi criar uma rede de articulação, a exemplo da rede europeia, que possa se contrapor de forma prática às leis de propriedade intelectual sobre as sementes, consideradas pelos seus membros como “ilegítimas”, além de conter o avanço dos transgênicos no continente americano. Outras atribuições seriam realizar feiras de trocas de sementes e compartilhar conhecimento sobre práticas sustentáveis de plantio, consumo e comercialização além de divulgar informações sobre todos estes temas entre seus membros e à imprensa.

As sementes nativas, também chamadas sementes da biodiversidade, sementes da identidade – e inúmeras outras definições dependendo do local onde iniciam suas campanhas em sua defesa – são, em resumo, as sementes nativas, não transgênicas, que passaram por domesticação, cultivo, intercâmbio e melhoramento de modo contínuo e livre entre diferentes povos do mundo durante milênios até os dias de hoje.

Estas sementes são consideradas patrimônio da humanidade e desde a década de 60 são alvo de grandes empresas agroquímicas, como a Monsanto, acusadas pela rede de cometerem crime contra a humanidade, uma vez que por meio da transgenia vêm patenteando este material genético e criando empecilho para sua livre reprodução, seja por meio de híbridos degenerativos ou por mecanismos de esterilização.

O evento no qual a rede se formou foi produzido pela Kokopelli, organização francesa que trabalha há mais de 20 anos com uma coleção de 2500 sementes tradicionais, e reuniu mais de 400 pessoas na região dos Andes, identificada como um dos centros mais importantes de origem de variedades alimentares do mundo. A ONG francesa enfrenta processos judiciais na Europa por defender que os produtores de sementes tradicionais possa guardar, multiplicar e até mesmo comercializar suas sementes livremente. Uma das primeiras tarefas da Rede será recolher sobre o status das leis de sementes em cada país para o recém criado site www.leyesdesemillas.com

O próximo encontro da Rede Sementes Livres será em abril de 2013 no Chile e terá a presença da ativista indiana Vandana Shiva, que aceitou o convite após uma de suas intervenções no festival da Kokopelli. Vanda aproveitou para convocar um ato global, no dia 02 de outubro – dia do aniversário de Gandhi – em defesa das sementes livres, desafio acatado e já em preparação pela rede.

A declaração pública da Rede traduzida para o português está disponível em http://www.redsemillaslibres.org , onde também é possível encontrar mais informações sobre como se integrar à nova organização.

(*)Tadzia Maia é da Casa das Sementes Livres.