As pressões e conflitos ambientais na região metropolitana do Rio de Janeiro, seu impacto na agricultura familiar e as alternativas de fortalecimento desta pela agroecologia foram os principais temas discutidos no II encontro Metropolitano de Agroecologia.

encontro metropolitano mageCom a presença de cerca de 300 pessoas, entre agricultores, técnicos, consumidores e estudantes aconteceu nos dias 30 de agosto, 1 e 2 de setembro em Magé, o II Encontro Metropolitano de Agroecologia, com o tema “Fortalecendo um território agroecológico”. Oficinas, visitas a experiências, feira da agricultura familiar, rodadas temáticas de discussão e atividades culturais mobilizaram o grupo durante os três dias de evento. O II Encontro Metropolitano de Agroecologia foi uma realização da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro e do Projeto Semeando Agroecologia da AS-PTA, e contou com o apoio da Emater Rio, Prefeitura Municipal de Magé, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – (SFA/RJ), Ceasa-RJ, UFRRJ e Colégio Estadual Agrícola Almirante Ernani do Amaral Peixoto e o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Desenvolvimento e Cidadania.

O Primeiro dia de evento começou com a construção de um mapa da região metropolitana, onde os participantes, agricultores, pescadores, técnicos, estudantes, grupos e entidades do campo da agroecologia expuseram os conflitos e ameaças territoriais e ambientais provocados pelos diferentes projetos de desenvolvimento em curso na região, e como a agricultura familiar vem sendo afetada por estes conflitos. Em seguida foi exibido o documentário Agricultura mora em mim: a face invisível da cidade, produzido pelo projeto Semeando Agroecologia com o objetivo de mostrar de que forma os agricultores intra e perirubanos estão vendo sua atividade frente ao forte processo de urbanização na região e quais são as alternativas possíveis de resistência e fortalecimento desta prática.

primeira exposiçaoNa parte de tarde, dois painéis temáticos reuniram os participantes em torno do tema da construção de um território agroecológico diante das diferentes concepções de desenvolvimento para a região metropolitana. O ambientalista Sérgio Ricardo conduziu a primeira parte da discussão dedicada a análise dos principais projetos de desenvolvimento tendo em vista os grandes eventos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Os grandes empreendimentos como a Siderúrgica TKCSA, a construção do Arco Metropolitano, e o Aterro Sanitário de Seropédica foram analisados com vistas ao impacto que causam sobre o agravamento dos conflitos neste território através das desapropriações de áreas de agricultores, ou o impedimento de atividades pesqueiras e sobre o domínio ou contaminação de recursos naturais, agravando o já crescente processo de invisibilização e desprestígio da agricultura familiar na região. O ambientalista ressaltou a importância do fortalecimento das diferentes formas de organização frente a estes desafios como uma forma de lutar por justiça ambiental e destacou de forma positiva a grande presença dos jovens no evento como um sinal de que o processo de mudança está se fortalecendo.

segunda exposiçaoCom o objetivo de aprofundar a análise e construir propostas de mudanças concretas para este quadro de pressão sobre a agricultura familiar, o segundo momento de discussão foi conduzido a partir da apresentação de três experiências onde a agroecologia favorece os processos de resistência da agricultura familiar fixada em áreas de forte urbanização. Flávio Antônio da CPT apresentou a luta dos agricultores de Nova Iguaçu pela mudança do plano diretor do município retomando o reconhecimento da agricultura familiar no município, Soélia Brito , agricultora da Cooperativa Univerde, expôs os principais resultados da ampliação da venda direta ao consumidor e para a alimentação escolar das hortaliças produzidas nas comunidades de Geneciano Luz e Gerard Danon, ambas em Nova Iguaçu. Francisco Souza, da Associação dos Agricultores da Vargem Grande (AgroVargem), expôs com emoção a história de invisibilidade dos agricultores que residem nas áreas de proteção ambiental do Parque Estadual da Pedra Branca. Denis Monteiro, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) comentou as experiências apresentadas e ressaltou a importância política de existir espaço permanente de troca entre os agricultores e organizações que atuam no campo da agroecologia e agricultura familiar: “Os dados oficiais só ajudam a tornar a agricultura cada vez mais invisível. É importante existir esta rede permanente que se posicione contra as ações do Estado que pressionam a agricultura familiar” e destacou que enquanto houver espaço de articulação, não passarão desapercebidos acontecimentos como a demolição da sede da ONG Verdejar ocorrida no início de agosto pela empresa Light e a destruição dos cultivos no quintal de Dona Rita em Jacarepaguá, também ocorrida recentemente para a construção de um galpão da COMLURB.

auditorioO segundo dia do evento foi dedicado principalmente ao debate sobre espaços de comercialização. Foi realizada uma visita à Feira da Agricultura Familiar de Magé, uma conquista recente dos agricultores da região. Na parte da tarde foi realizado um seminário estadual sobre feiras que teve o objetivo de analisar os diferentes circuitos de comercialização para fortalecimento das experiências agroecológicas, ressaltando a importância das feiras locais e a necessidade da construção de uma identidade coletiva desta forma de comercialização.

No terceiro e último dia de encontro foram realizadas oficinas e visitas temáticas à experiências agroecológicas, fomentando a troca de saberes e conhecimentos entre agricultores de diferentes municípios. Também foi redigida a Carta Política do II Encontro Metropolitano de Agroecologia, um documento apresentando os principais compromissos e reivindicações para ser utilizado pelas organizações locais para interlocução com os candidatos e os atuais gestores públicos nos seus municípios. Dentre os pontos levantados no documento destacam-se: a realização imediata de um processo de regularização fundiária e revisão os planos diretores municipais para o reconhecimento dos territórios da agricultura familiar e da pesca artesanal; a criação de políticas de incentivo a transição agroecológica de promoção da segurança alimentar e nutricional, como apoio às feiras da agricultura familiar e feiras agroecológicas e campanhas de incentivo ao consumo dos alimentos produzidos localmente; a garantia de assistência técnica pública e gratuita e com enfoque agroecológico, com a participação de organizações da sociedade civil; a proibição do uso de agrotóxicos e transgênicos nos municípios e o banimento imediato dos 14 agrotóxicos analisados pela ANVISA e já proibidos em outros países.

Além destes pontos destacado na Carta de Magé, foi levantada a importância da formação de núcleos regionais organizados dentro da Articulação de Agroecologia da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e participação da região metropolitana na próxima reunião ampliada da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ) que que está prevista para os dias 28 e 29 de setembro, em São Pedro da Serra, Nova Friburgo.

(*) Matéria reproduzida da AS-PTA.