Quais são os legumes e verduras que comumente apresentam os maiores índices residuais de pesticidas? O que fazer para consumir frutas e verduras com tranquilidade?
“Alface, tomates, pepinos, maçãs, pimentões, morangos: todo mundo gosta. Mas são esses alimentos os que, geralmente, contêm as doses residuais mais elevadas de pesticidas capazes de agir sobre nosso sistema endócrino, ou seja, substâncias que podem alterar o metabolismo hormonal”, denuncia a PAN Europe (Pesticide Action Network), uma rede de organizações não governamentais que promovem alternativas sustentáveis e naturais ao uso de pesticidas.
O coquetel químico que reveste a maior parte das frutas e verduras oferecidas nos supermercados tem correlação com a redução da fertilidade, o aumento de alguns tipos de tumores, puberdade precoce, diabetes e obesidade. Os interferentes estão presentes também, em várias medidas, em fármacos, cosméticos, embalagens e recipientes de plástico, revestimentos de latas, comida para animais.
A questão é delicada e tema de constantes debates pelas autoridades da saúde pública e privada em todos os países. Por um lado, os alimentos que acabam sobre nossas mesas são, pelos menos no mundo desenvolvido ou em vias de desenvolvimento, submetidos a controles mais ou menos severos para garantir a saúde do consumidor. Por outro lado, ainda não se conhece bem os efeitos que tais substâncias, usadas para evitar o ataque de pragas e insetos, ou para melhorar a aparência e a durabilidade dos produtos, podem trazer à saúde.
Os alimentos nos quais foram encontrados os mais altos traços de resíduos de pesticidas interferentes são: alface, tomates, pepinos, maçãs, pêssegos, pimentões e morangos. Menos contaminados são a banana, cenoura, ervilhas e os legumes e hortaliças protegidos por uma casca mais grossa.
No Brasil, pior ainda
Enquanto o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o brasileiro aumentou 190%, colocando nosso país em primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo. Além de a substância impactar o meio ambiente, ela também abala a segurança alimentar e a saúde da população.
Segundo dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), um terço dos alimentos consumidos pelos brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos. Os alimentos que mais demandam a substância são a soja (40%), o milho (15%), a cana e o algodão (10%), as frutas cítricas (7%), o trigo (3%) e o arroz (3%).
Cerca de 70 milhões de brasileiros vivem em estado de insegurança alimentar e nutricional, sendo que 90% desta população consumem consomem frutas, verduras e legumes abaixo da quantidade recomendada para uma alimentação saudável, de acordo com o IBGE. Uma alimentação desequilibrada já é ruim, mas o consumo prolongado de agrotóxicos através da comida é pior ainda, podendo provocar doenças como câncer, malformação congênita, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais.
O ideal para a saúde coletiva seria evitar ou reduzir o consumo dos pesticidas nos cultivos, hortas e na alimentação brasileira. O documento da Abrasco defende a proibição de agrotóxicos já banidos em outros países, mas ainda liberados no Brasil, que apresentam graves riscos à saúde humana e ao ambiente. Enquanto isso não ocorre, os cuidados devem ser tomados por você antes de ingerir os alimentos em casa.
Eliminando parte do risco
Deixá-los de molho no vinagre pode ser ótimo para matar micróbios, mas nem sempre funciona quando o assunto é tirar os agrotóxicos das frutas e verduras. A recomendação é sempre preferir os alimentos orgânicos, mas quando não é possível adquiri-los, a lavagem dos produtos antes do consumo é imprescindível.
Se o agrotóxico utilizado for de superfície, limitando-se a parte externa do alimento, lavar bem com água elimina o risco, como é o caso dos morangos e dos tomates. A dificuldade cresce nas situações em que o agrotóxico penetra o alimento e afeta o seu interior. Nesse caso, a fervura pode inativar os efeitos adversos dos pesticidas. Entretanto, há agrotóxicos feitos à base de zinco ou estanho e à base de metais que nem o aquecimento elimina e não tem como reduzir o perigo ao ingerir.
Cinco regras para eliminar da mesa os pesticidas
Como impedir a absorção dessas substâncias? Podemos por em prática algumas medidas:
1. Se possível, comprar alimentos frescos provenientes da agricultura orgânica: hoje, a maior parte dos supermercados possui seções de produtos provenientes de cultivos onde – pelo menos oficialmente – não são utilizados pesticidas e fertilizantes químicos. Claro, em tempos de incerteza econômica como os atuais, este não é um conselho fácil de seguir, mas é sempre possível descobrir-se que, não longe de sua casa, existe algum cultivador local de confiança; você também pode, para conter as despesas, se inscrever em algum grupo de compra solidária.
2. Lavar acuradamente frutas e verduras com água e bicarbonato de sódio: não serve para remover completamente todos os pesticidas, porém ajuda.
3. Despele os alimentos antes de consumi-los: à parte os pesticidas sistêmicos, que atravessam a pele e penetram no interior da polpa das hortaliças, a maior parte dos interferentes permanece concentrada na pele externa.
4. Prefira sempre os alimentos menos contaminados.
5. Onde e sempre que é possível, cultivar alguma coisa, mantenha pequenas hortas, no jardim, no quintal, ou em vasos nos terraços e balcões. Muitas vezes, por questão de espaço, os resultados serão modestos, mas você sempre pode escolher o cltivo em condições controladas das hortaliças e legumes que geralmente contêm mais traços de pesticidas e, assim, ter um problema a menos para resolver.
(*) Matéria reproduzida do blog Brasil 247.