Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST
O Encontro dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas será realizado entre os dias 20 a 22 de agosto, em Brasília.
Será montado um acampamento no Parque das Cidade, que contará com mais de 5 mil delegados de diversos movimentos sociais de todo o Brasil.
O encontro tem a simbologia de acontecer 51 anos depois do primeiro e único Congresso Camponês, que reuniu diversos movimentos sociais do campo brasileiro em 1961 que fazem uma luta comum.
De acordo com José Batista de Oliveira, da Coordenação Nacional do MST e da articulação do encontro, o evento será importante para que se defina uma unidade nas lutas dos movimentos sociais do campo.
“Não basta cada movimento lutar por si só. O encontro é um espaço para unir movimentos regionais e nacionais que fazem a luta pela terra e resistem no campo”, disse Zé Batista.
Abaixo, confira a entrevista:
Como surgiu a ideia de realizar o encontro?
O encontro surgiu de uma análise de que tanto a Reforma Agrária como outras políticas estruturantes para o campo brasileiro, como a demarcação das terras indígenas, estão paralisadas.
Esse governo ainda não se propôs a criar um plano para o campo brasileiro. O tema da terra afeta a todos os movimentos, já que essas pautas estão paradas por causa do crescimento do modelo do agronegócio, que avança sobre as terras devolutas que deveriam ser destinadas à Reforma Agrária, sobre a terra dos indígenas e quilombolas. Cada vez mais são criadas bases jurídicas que permitem esse avanço do capital.
Frente a essa conjuntura, há um diagnóstico comum: as políticas estruturantes estão paradas, há um gargalo em relação à terra cujo responsável é o agronegócio, apoiado pelo governo. Se o agronegócio e o grande capital financeiro, representado pelos bancos, são os grandes inimigos comuns, não basta cada movimento lutar por si só. O encontro é um espaço para unir movimentos regionais e nacionais que fazem a luta pela terra e resistem no campo.
Que movimentos e organizações estarão presentes?
O encontro vai unir os movimentos do campo de caráter nacional, como os movimentos que compõem a Via Campesina, o Movimento Camponês Popular (MCP), a Cáritas Brasileira, a Confedaração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), além de movimentos regionais, indígenas, quilombolas e de pescadores. Nós estamos estimando que teremos de 5 a 7 mil delegados de todo o Brasil.
Qual o objetivo do encontro?
O primeiro objetivo é que os militantes e lideranças levem de volta para a sua luta o que foi acumulado no encontro. O segundo objetivo é fazer um diagnóstico de como está a agricultura no Brasil, quais são os limites da Reforma Agrária, quem são nossos inimigos. Vamos debater como enfrentá-los e que ações conjuntas serão desenvolvidas.
Por fim, vamos fazer uma marcha em Brasília para dar essa demonstração de unidade dos movimentos e exercer pressão sobre o governo, colocando a Reforma Agrária e o direito à terra para todos como prioridade.
Assim, vamos pressionar para que haja um plano de ação do governo em relação à terra: que decrete áreas quilombolas e indígenas, assente os agricultores. E não o contrário, como vem sendo feito.
Qual será a centralidade do diálogo com o governo e com a sociedade?
Queremos discutir com o governo, mostrar para a sociedade e para a imprensa que o agronegócio não é o que se propaga. Apesar do discurso desse modelo ser lucrativo, rendendo mais de R$ 130 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto), o crédito que recebem do governo está em R$ 115 bilhões, o que mostra que o retorno não é alto.
Latifundiários e grandes empresas vivem do apoio do Estado e do financiamento do (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nós vamos exercer pressão para denunciar. Mesmo que o encontro não resolva todas as nossas pautas, queremos abrir um canal de diálogo com o governo.
Pretendemos massificar essa marcha para além dos participantes do encontro, agregando outras forças, como os sindicatos urbanos para mostrar a solidariedade do conjunto dos trabalhadores, pois a Reforma Agrária e o respeito aos territórios tradicionais, não são uma problemática dos Sem Terra e dos indígenas.
Vale ressaltar que o encontro não se encerra em si. É preciso planejar lutas conjuntas para o próximo período. Nosso objetivo é que essa unidade não seja só momentânea, mas o início de um processo, pois o governo está convencido de que não deve fazer Reforma Agrária e demarcar terras.
Por que no acampamento os militantes serão divididos por estados, e não por movimentos?
O objetivo do encontro é realizar uma integração. Não tem sentido realizar um encontro de várias organizações onde cada um fique no seu canto. O mesmo para os debates, nos quais queremos que cada estado ou região do país reúna os movimentos para analisar a conjuntura e pensar no que fazer juntos.
O conjunto do encontro tem que apontar para essa construção de unidade. É claro que ninguém vai negar a identidade e pautas específicas de cada movimento, mas tem que existir ações conjuntas e demonstrar unidade na ação. Mesmo que cada movimento siga fazendo sua luta específica, queremos delimitar as lutas que temos em comum.
Como se dará a estrutura física do espaço?
A única parceria que temos é com o Governo do Distrito Federal (GDF) para garantir o espaço do encontro. A estrutura será da forma como fazemos as lutas: nosso pessoal está organizando as caravanas para vir de ônibus. Cada organização está arrecadando recursos com as bases.
Inclusive, a solidariedade que queremos criar no encontro já aparece nesse momento, pois diversos movimentos que estão nas mesmas regiões vão juntos. O mesmo serve para alimentação. Já que questionamos o agronegócio, queremos aproveitar esse espaço para comer da nossa comida, produzida nos nossos assentamentos.
Estamos fazendo uma campanha para que todas as organizações comprometidas com a luta dos trabalhadores do campo possam contribuir para que o encontro se realize. A organização é de total autonomia dos movimentos. Por isso, vamos nos articular para levar os militantes, preparar as atividades e criar um espaço dos movimentos bem organizado, com um grande acampamento no Parque das Cidades.
(*) Entrevista reproduzida da Página do MST.