seca sementesGleiceani Nogueira – Asacom
Recife – PE

Com a seca prolongada que atinge o Semiárido, considerada a pior dos últimos 30 anos, surge a preocupação de que as sementes crioulas da região não cheguem ao próximo inverno. “Podemos perder anos e anos de trabalho”, alertou o coordenador da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), Naidison Baptista, no final do mês passado, no encontro das 16 novas entidades que vão executar o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), em Camaragibe, Pernambuco.

As sementes crioulas, também chamadas de Sementes da Gente, Sementes da Paixão e Sementes da Resistência fazem parte da cultura e da tradição da agricultura familiar na região. São adaptadas às condições de clima e solo da região e são completamente naturais, ao contrário das sementes transgênicas produzidas por laboratórios multinacionais que dominam o mercado de produção de alimentos.

Com a falta de chuvas na região, os agricultores e as agricultoras perderam o que plantaram e com isso não conseguiram obter novas sementes para a próxima safra. O que existe está sendo cuidadosamente guardado pelas famílias na esperança de um bom inverno no ano seguinte. Mas, no decorrer desse período, há riscos dessas sementes se transformarem em alimento.

“Existem sementes que só a família tem e, muitas vezes, ela nem sabe disso. Se elas forem consumidas agora, há espécies que podem desaparecer para sempre, causando a chamada erosão genética”, explica o coordenador do P1+2, Antônio Gomes Barbosa. De acordo com ele, as variedades mais ameaçadas são as sementes de feijão, fava, milho e alguns tubérculos, como a macaxeira.

Para evitar que as sementes desapareçam e garantir a manutenção do patrimônio genético construído e cuidado pelas famílias, a ASA está discutindo uma ação emergencial com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A proposta é que a Companhia adquira as sementes crioulas, que seriam estocadas e devolvidas aos agricultores no próximo plantio.

Para isso, cabe a Articulação fazer a identificação das sementes espalhadas no Semiárido. “Essa é a missão da UGTs [Unidades Gestoras Territoriais, que executam as ações do P1+2] na perspectiva da convivência com o Semiárido”, disse Naidison, convocando as entidades para uma campanha pela conservação e resgate das sementes crioulas.

Além disso, a ASA e a Conab estão negociando uma parceria permanente de apoio às casas de sementes. Nessa linha, são necessárias duas ações: mapear e estruturar as iniciativas comunitárias na região. Esse trabalho será feito este ano pelas UGTs através do termo de parceria entre a ASA e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).

O P1+2 vai disponibilizar R$ 252 mil para apoiar a infraestrutura de 126 casas de sementes comunitárias, com a compra de equipamentos como balança, silos, entre outros. Também serão realizadas capacitações sobre gestão comunitária das sementes.

Biodiversidade – A ASA reúne mais de 800 experiências coletivas de bancos e casas de sementes que envolvem cerca de 15 mil famílias, além de inúmeros bancos familiares, que guardam um patrimônio inestimável de variedades crioulas.

Em julho de 2011, durante o II Encontro de Sementes do Semiárido, em Maceió-AL, a ASA, juntamente à Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), assumiu o compromisso de fortalecer as experiências e rede de sementes, bem como identificar e apoiar os bancos comunitários.

Veja aqui a Carta Política do II Encontro de Sementes do Semiárido.

(*) Matéria reproduzida do site da ASA Brasil.