Um mural com centenas de fotos e dados da agricultura familiar está exposto no Territórios do Futuro, na Cúpula dos Povos, próximo ao Museu de Arte Moderna, no aterro do Flamengo. É uma iniciativa da Rede Agriculturas, uma rede internacional que publica revistas. A AS-PTA Agroecologia publica a revista Agriculturas no Brasil, assim como a edição latinoamericana no Peru e outras em diversos continentes. A edição global é publicada na Holanda. Essa rede está presente na Cúpula dos Povos, vai  divulgar seus materiais em stands e uma edição especial sobre a Rio+20 com uma série de exemplos significativos tirados de edições anteriores.

A ideia do mural é apresentar imagens da agricultura familiar no mundo inteiro, com dados sobre o papel: em que medida ela e a agroecologia respondem estruturalmente aos grandes dilemas que estão sendo debatidos na Rio+20, como a questão da soberania alimentar, a superação da pobreza, adaptação às mudanças climáticas, o enfrentamento aos desafios ambientais. A ideia é mostrar que a agricultura familiar é muito diversificada, e essas várias formas se ajustam aos diferentes lugares. É totalmente diferente do padrão moderno e industrial, que é de padronização da agricultura.

O principal objetivo do mural é dar visibilidade às experiências, que é um dos princípios chaves da construção da proposta agroecológica. Não se trata de soluções únicas e de fácil reprodução nos diversos territórios. O mural mostra exatamente essa diversidade através de fotos, pequenos textos e algumas estatísticas. As organizações presentes na Cúpula dos Povos estão convidadas a trazer suas imagens, seus dados, seus pequenos textos com experiências para somar nesse projeto. Os materiais expostos são parte de um levantamento internacional, que será dividido em experiências internacionais e nacionais.

Boa parte da agricultura no mundo, das suas riquezas, ainda são produzidas pela agricultura familiar. Isso é muito ocultado. Quando a gente fala em alimentos, essa proporção aumenta ainda mais. Então, se precisamos enfrentar estruturalmente o problema da insegurança alimentar a agricultura familiar é fundamental. Os dados mostram que uma parcela significativa da alimentação, que varia de continente para continente, é produzida pela agricultura familiar. Tanto é que os países que não protegem sua agricultura familiar são os que têm maiores problemas em segurança alimentar. Outro dado é que a agricultura familiar tem a sua natureza diversificada e voltada para o mercados locais. Ela tem ainda uma relação positiva com o meio ambiente, conserva mais a biodiversidade, desde que ela tenha espaço para se desenvolver. Toda vez que a agricultura familiar é espremida fisicamente ou ideologicamente, começa a ter também um processo de degradação ambiental.

Por que a agricultura familiar é mais sustentável do ponto de vista ambiental? Exatamente porque ela conserva os recursos naturais, diferente de uma agricultura que é focada no lucro à curto prazo. Não é o caso da agricultura familiar, que é baseada exatamente na natureza, no patrimônio familiar, que deve ser preservado para as gerações seguintes. Isso faz parte da reprodução da própria família. Então além de produzir recursos econômicos para atender às necessidades imediatas no curto prazo, a agricultura familiar sempre pensa no médio e no longo prazo. Diferente da agricultura capitalista, em que o médio e longo prazo não está nas variáveis econômicas. A agricultura familiar tem esse papel, pois gera mais empregos e ocupações.

As estatísticas mundiais são muito pouco precisas. Mas o censo agropecuário brasileiro tem dados muito interessantes: mais de 60% da alimentação consumida pelo brasileiro é produzida pela agricultura familiar. A cada 100 hectares produzidos pela agricultura familiar, gera-se 16 postos de trabalho, ao passo que na agricultura patronal não gera nenhum. Mas como todas as estatísticas não são baseadas nessa lógica entre o familiar e o patronal ou capitalista, às vezes é muito difícil apesar de algumas pesquisas apontarem nessa direção. É exatamente esse tipo de estatística que a gente está conseguindo levantar e vai colocar no mural.