Aipim, laranja, limão, maracujá, banana e urucum, quiabo, maxixe, pimenta, palmito, pepino e jiló. As hortaliças são variadas e frescas, assim como o leite, o queijo e os ovos caipiras. Nas feiras da roça de Queimados, Nova Iguaçu e Magé os produtos trazidos pelos agricultores familiares periurbanos e produzidos de forma agroecológica em seus sítios atendem a um mercado de proximidade, fortalecendo a relação dos agricultores com seus consumidores, apartir de um consumo consciente.
Com a motivação de conhecer melhor as diferentes formas de comercialização adotadas pelos agricultores familiares periurbanos do Rio de Janeiro, a equipe do Projeto Semeando Agroecologia, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Desenvolvimento e Cidadania, realizou um diagnóstico participativo sobre o acesso aos diversos tipos de mercados nos municípios do Rio de Janeiro, Magé, Nova Iguaçu e Queimados. Norteado pelos princípios de estímulo à produção de alimentos saudáveis, valorizando experiências agroecológicas, o estudo pôde levantar, a partir do ponto de vista dos grupos dos agricultores, as percepções sobre como cada tipo de mercado lhes pode beneficiar ou não.
Foram vários tipos de iniciativas de comercialização identificadas: desde feiras livres, as feiras “da roça” ou de produtos agroecológicos, a venda direta na porta dos consumidores, a venda a CEASA, até a venda à atravessadores, dentre outros. O Estudo de Viabilidade Econômica que se estruturou a partir do diagnóstico aponta um direcionamento de ações do Projeto Semeando Agroecologia que visem aumentar a capacidade dos agricultores de se inserirem naqueles mercados que lhes tragam maiores retornos econômicos.
Por proporcionarem a venda direta de produtos, com melhores preços e a fidelização dos consumidores, as Feiras da Roça se tornaram uma das prioridades do Projeto, visando a potencialização da geração de emprego e renda, no que diz respeito ao fortalecimento de experiências já em andamento como as feiras que acontecem nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados.
A Feira da Roça de Nova Iguaçu, por exemplo, já tem uma história sólida no município. Formada em 1999 quando funcionava mensalmente dentro de um galpão cedido pela prefeitura de Nova Iguaçu, surgiu a partir da motivação dos agricultores de se reunirem para comercializarem seus produtos. Hoje a feira tem uma associação de feirantes, que organiza o espaço, as barracas e os produtores, passando a ser realizada todas as quartas-feiras na Praça Rui Barbosa, no centro de Nova Iguaçu, um espaço de grande circulação de pessoas durante toda a semana. A Feira da Roça de Nova Iguaçu é uma iniciativa de organizações da sociedade civil tendo forte envolvimento da Comissão Pastoral da Terra e o Fórum de Cooperativismo Popular de Nova Iguaçu.
A Feira da Roça de Queimados tem uma história mais recente, foi formada em 2010 a partir de um programa de hortas comunitárias promovido pela Prefeitura Municipal de Queimados. A partir do entendimento de que espaço poderia cumprir um papel importante de socialização de uma agricultura enfraquecida no município é que iniciaram com algumas barracas oferecendo produtos que tinham disponíveis para além das pequenas trocas monetárias que faziam com o excedente da produção. Com esta experiência, os produtores perceberam que além da comercialização dos produtos, a feira era um espaço de afirmação de uma agricultura familiar que oferta produtos saudáveis, a solidariedade entre agricultores e destes com consumidores. A Feira da Roça de Queimados também é realizada semanalmente e é organizada pala Associação da Feira da Roça de Queimados.
Nas feiras, os consumidores semanalmente garantem suas compras, inclusive mantendo uma relação de demanda orientada aos agricultores onde vários produtos são encomendados. Rosangela, agricultora e feirante da Feira de Roça de Queimado acredita na força da venda direta: “Quando os fregueses conhecem os nosso produtos e vêm comprar eles estão ajudando a gente a nos fortalecer”. Segundo Alzeni, agricultora da cooperativa Univerde de Nova Iguaçu, os fregueses cativos da feira são um grande incentivo para os agricultores: “Não é só financeiramente, mas conhecemos novas pessoas, a gente troca conhecimentos, troca receitas, faz amizade. Quando eu não venho, tem freguês que liga para a minha casa para saber como eu estou. Eu sinto prazer em estar aqui toda a quarta-feira”.
Feira “da roça” na cidade: produtos frescos e relações de cooperação
A região metropolitana do Rio de Janeiro caracteriza-se por ser uma das mais urbanizadas do Brasil, contudo, existe uma vigorosa parcela de agricultores urbanos cuja atividade promove a produção de alimentos saudáveis, o cuidado com o meio ambiente e a promoção da saúde e do bem estar. Também são vendidos produtos processados como bolos e doces variados, mel de abelha, própolis, farinhas, geleias e sucos de fruta. Além dos produtos agrícolas, a feira também oferece artesanatos variados que são organizados pelo movimento da economia solidária e que confere uma atração a mais à feira.
A riqueza e variedade de produtos vendidos nas Feiras é um indicativo do perfil diverso da agricultura familiar perirubana, mas também da preocupação destes agricultores em atender de forma organizada a demanda dos consumidores cuja praticidade faz com que busquem uma variedade maior de produtos num mesmo local. Segundo Alzeni há um acordo entre os feirantes para que cada um venda um tipo de produto, “Alguns produtos são repetidos, mas cada um tem seu tipo de produto, nós temos aqui a Dona Ivonete que trabalha com doces, o Seu Domingos que trabalha com aipim, a Dona Vitória vende o Queijo, o remédio de ervas do Manoel, o mel do Renato e muitos outros. Todos nós dividimos bem este espaço”.
O fortalecimento das associações de feirantes é também um dado importante para a manutenção do espaço das feiras da roça. Segundo Renato Baldez, apicultor e feirante, para participar da feira é importante que o produto seja do produtor e que não deve haver espaço para a figura do atravessador: “Cada um produz o que está vendendo. Tem gente que traz o produto do vizinho, mas não tem o lucro do atravessador. Quando a agente vende diretamente, ganha o produtor e ganha o consumidor. A gente consegue um preço melhor no produto e o freguês está comprando um produto mais fresco”.
A qualidade dos produtos é, sem dúvida, a principal propaganda, mas a relação que cada feirante estabelece com os fregueses contribui também para o fortalecimento das feiras. Para Maria Bethania, agricultora do assentamento Marapicú em Nova Iguaçu, a feira é um espaço onde o agricultor pode conversar e explicar para o consumidor como aqueles produtos saudáveis são cultivados: “A gente explica a importância de comprar o produto orgânico, essa é a nossa propaganda”.
A venda nas feiras é também uma oportunidade para o exercício do trabalho cooperativo. Alzeni traz semanalmente as verduras, mudas, ervas e temperos produzidos sobre as faixas de dutos pelas mulheres da cooperativa Univerde. “Eu trago o produto e vendo, mas não tiro lucro no produto das outras meninas. A gente se reveza e cada uma vai a uma feira levando o produto de todo mundo”.
Inspirados nestas experiências de sucesso, agricultores do município de Magé estão organizando uma feira onde possam vender seus produtos frescos diretamente para os consumidores. A Feira da Roça de Magé ainda não tem local e dia de funcionamento, mas já promete ser mais um espaço para a comercialização de produtos agroecológicos provenintes da agricultura familiar periurbana do Rio de Janeiro.
(*) Matéria publicada na página da AS-PTA.