Nos dias 10 e 11 de fevereiro, grupos produtivos da região do Bico do Papagaio se reuniram para analisar a mídia e produzir comunicação. Atividade fez parte do projeto “Nossa economia tem valor”

 

 

 
   

 

Costura, biojóias, extrativismo, fabricação de remédios a partir de ervas medicinais e argila. Essas são algumas das atividades de grupos de mulheres do norte do Tocantins, que se reuniram no último final de semana para pensar em estratégias de comunicação. Estavam presentes representantes dos municípios de Buriti, Wanderlândia, Araguaína e Axixá.

 

No primeiro dia de encontro, participantes analisaram o modelo de desenvolvimento agrário baseado no latifúndio, na monocultura e na exploração predatória do meio ambiente. Esse modelo foi comparado ao desenvolvimento e lógica produtiva propostos por essas comunidades, em que a relação de respeito com a natureza, os saberes populares e a autonomia são princípios básicos.

 

A partir dessa discussão, o grupo assistiu a algumas reportagens de TV para pensar como agricultura familiar e agronegócio são retratados pela mídia: o primeiro, como atraso e empecilho, e seus representantes como vândalos, invasores e baderneiros; o segundo, como desenvolvimento e progresso, e seus representantes como modernos produtores rurais.

 

No segundo dia, depois de conversar sobre o funcionamento dos meios de comunicação, os grupos produziram textos sobre suas atividades, que você pode conferir mais abaixo.

 


Nossa economia tem valor

 

O projeto “Nossa economia tem valor” identificou atividades da agricultura familiar e de outros grupos produtivos dos quatro municípios envolvidos. A partir daí, os participantes elaboraram um plano de negócios, para potencializar o desenvolvimento das atividades. O objetivo do projeto é valorizar a agricultura familiar e sua lógica de produção. Ele é desenvolvido pela Visão Mundial, com apoio da APA-TO – Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins. O “Escravo, nem pensar!” foi convidado pela Visão Mundial para assessorar este encontro.

 

Conheça melhor os grupos por meio dos textos produzidos por cada um deles no encontro:

 


A Conquista da Mulher Autônoma

 

almofadas  
Artesanato produzido pelo grupo de Wanderlândia
(Crédito: Gustavo Ohara)
 

 

Grupo de Mulheres em Wanderlândia participa do projeto “Nossa economia tem valor”, que tem como objetivo a valorização do trabalho feminino e a sua organização, hajam vista as mudanças ocorridas na vida das mulheres que aprendem acima de tudo a ver seu negócio como um meio de sustentabilidade.

 

Fazem parte desde grupo a costureira Domicilia Lopes, que há 8 anos atua no ramo, a vendedora  de cosméticos, jóias e roupas Maria da Luz, no ramo  há  4 anos, e a artesã  Darleiane Silva, que há 2 anos trabalha da produção e vendas de capa de almofadas.

 

Mesmo com dificuldades, a produção e a comercialização são feitas nas comunidades (Centro e Setor Sul), nas zonas rurais e cidades vizinhas (Araguaína, Xambioá e Darcinópolis). O trabalho é realizado nas próprias residências, por possibilitar uma melhor acessibilidade, articulação e atendimento aos clientes.

 

Tendo como objetivo melhorar a qualidade de vida, estas mulheres conquistaram a autonomia. “É maravilhoso não trabalhar para os outros”, resume Domicilia Lopes.

 


Coco da Vida

 

As comunidades de Buriti, vendo a necessidade de gerar renda para o sustento das suas famílias, resolveram explorar sustentavelmente alguns recursos naturais, sabendo que a cidade tem um alto potencial em babaçuais.

 

Sendo assim, começaram a utilizar esse recurso que a natureza lhes proporciona. De início, elas aprenderam o manejo sustentável do coco babaçu, e a partir daí aprenderam a utilizar a castanha do babaçu para confecção de leite, azeite, sabão e cosméticos. Elas também aproveitam a casca para fazer carvão e artesanato. Passando esses conhecimentos de geração em geração, ainda utilizam esses saberes para a geração de renda.

 

  babaçu
     Babaçuais são fonte de vida no Bico do Papagaio
   (Crédito: Arquivo Repórter Brasil)

 

A colheita do coco babaçu dura o ano todo, porém as quebradeiras têm dificuldades em colher esses cocos no período chuvoso, pois o lugar onde formam esses babaçuais geralmente é encharcado, e assim cria muita lama debaixo das palmeiras. Outro problema é que os grandes fazendeiros as proíbem de colher os frutos das palmeiras que ficam nas suas propriedades, ou em outras vezes até derrubam essas palmeiras em consequência da formação de pasto ou pelo fato de não quererem que aquelas mulheres colham aqueles cocos em suas terras.

 

Mesmo com esses problemas, as mulheres quebradeiras continuam motivadas a colher de forma delicada e experiente, e depois da colheita do coco vem a fabricação de derivados do babaçu. Elas vendem esses produtos em pequenos comércios locais, e pretendem ampliar para todos os comércios das cidades circunvizinhas.

 

Assim, as quebradeiras preservam a cultura popular e ainda geram renda para suas famílias, por meio do COCO DA VIDA…

 


Grupo de Mulheres das comunidades de Axixá e Araguaína fazem remédios caseiros feitos de plantas

 

Grupos de mulheres de Araguaína e Axixá fazem os remédios adotando as boas práticas de manejo e manipulação de remédios naturais nas comunidades.

 

O que se utiliza das plantas são as raízes, entrecascas, folhas, flores e sementes para a produção de xaropes, pílulas, xampu, sabonetes, pomadas, cremes, garrafadas, extratos e sumos.

 

argila  
A argila serve como tratamento estético
(Crédito: Gustavo Ohara)
 

 

As mulheres trabalham também com a argila que serve para tratamento estético e como tratamento auxiliar para redução de dores em geral.

 

Para combater os casos de infecções, gripe, febre, dores musculares e de cabeça, é feito o xarope composto à base de angico.

 

A maior parte dos conhecimentos dos remédios naturais foi adquirida dos antepassados e aprimorada nas oficinas desenvolvidas pela Articulação PACARI de plantas medicinais. O objetivo desse trabalho é a valorização da cultura regional, destacando raizeiros e raizeiras, benzedeiros e benzedeiras como principais praticantes do uso das ervas medicinais.

 

Com a fabricação dos remédios, as famílias das comunidades conquistaram independência  financeira, porque reduzem o uso dos remédios alopáticos, pois os  produtos naturais são  de qualidade e são eficazes.

 

A base de coleta das plantas é o Cerrado e as ervas cultivadas em hortas caseiras. As mulheres pretendem continuar a conscientização sobre o cultivo das hortas medicinais e a preservação das plantas nativas do Cerrado para que não sejam destruídas.

 


Mulheres Independentes

 

 Aproximadamente há dois anos, um grupo de mulheres da cidade de Buriti, vendo a necessidades de ampliar a renda da família e conquistar a independência, resolveu se organizar para fazer a venda de diversos produtos. No início com dificuldades de sair de casa, pois seus filhos ainda eram pequenos, começaram a vender roupas aos seus vizinhos e pessoas que as visitavam. Hoje, depois de um tempo, elas conseguem sair e vender seus produtos nas comunidades locais e na zona rural, causando assim o aumento de clientes. E a partir daí resolveram vender outros produtos como: cosméticos, jóias, peças íntimas, perfumes. No começo, essas vendas eram feitas a pé, hoje já têm disponibilizado transportes como carro e moto.

 

O objetivo inicial era aumentar a renda familiar, e há algum tempo percebem também que é uma forma de preencher as necessidades da comunidade. “Antes éramos somente mulheres do lar, hoje somos mulheres independentes”, assim afirmam Maria Denice, Chrystina Silva, Maria Lucia e Antonia.

 


Ultrapassando as barreiras

 

biojoias  
Sementes e o coco babaçu são usados na confeção das biojóias
(Crédito: Gustavo Ohara)
 

 

Grupos de jovens de Buriti e de Pingo D’água se juntaram para produzir artesanato de sementes e babaçu. Desde 2009, tiveram a idéia de se organizar para fazer biojóias para o aumento da renda familiar e envolvendo os jovens nesta atividade.

 

O trabalho é desenvolvido por filhas de agricultores. São utilizadas sementes de açaí, buriti, bacaba, jarina, cajá e nossa senhora, que são encontradas na comunidade, onde são extraídas de forma sustentável, sem degradar o meio ambiente. O restante das coisas são compradas em Imperatriz (MA).

 

As biojóias são produzidas e divulgadas na Associação de Mulheres de Buriti (AMB). O grupo se reúne duas vezes por semana para produção, quando é realizado o corte, a perfuração e a pintura das sementes. Além disso, elas discutem sobre as dificuldades de logística de transporte e comercialização dos produtos. Acima de todas as barreiras continuam a persistir com o trabalho. As integrantes aprenderam a fazer as biojóias com as mulheres da AMB. Elas têm o prazer de mostrar os produtos naturais da própria região.

(*) Matéria reproduzida do blog Escravo, nem pensar.