encontro rede ecovidaAproximadamente 1500 pessoas lotaram o auditório durante a mesa de abertura do IX Encontro Ampliado da Rede Ecovida, realizado entre os dias 20 e 22 de abril em Marechal Cândido Rondon, no Paraná. Agricultores, assessores técnicos, instituições de cooperações internacionais, órgãos não governamentais, redes, dentre outros setores, integraram essa composição. Cerca de 90 representantes de 17 países latinoamericanos também estavam presentes. A Rede Ecovida visa potencializar o desenvolvimento da agroecologia, e promove a cada dois anos esse encontro para estimular a troca de experiências, definições e avalições rumo ao seu futuro. Ao final do evento foi escolhida a nova diretoria da organização.

 

O prefeito da cidade, Moacir Froehlich, deu as boas vindas elogiando os agricultores locais que fizeram a opção por uma produção sustentável e reforçando seu compromisso com a agroecologia e a produção orgânica no município. “Os agricultores são deveras importantes para o bem estar e a natureza. A agricultura familiar é o que de fato movimenta a economia dos pequenos municípios do país. Nós mantemos a duras penas nosso sistema de água, não vendemos para o exterior graças a eles, e recebemos o prêmio da ONU disputado com mais de 30 países”, destacou o gestor.

“A agroecologia e a agricultura familiar não é simplesmente uma fonte de renda voltada à saúde. É um projeto de vida e futuro, um sonho para nós e as novas gerações. A diversidade e a preservação ambiental do ser humano e da natureza é condição fundamental e imprescindível para não só cultivar as sementes, água e plantas, mas também a ética e a visão orgânica do universo onde estamos. Vida longa à agroecologia”, afirmou Paulo Koling, diretor do campus da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em Marechal Cândido Rondon.

Mais 700 famílias serão acrescentadas às 1200 atendidas na região graças aos recursos federais conquistados via editais de agroecologia, ressaltou Sergio Angheben, representante do presidente da empresa Itaipu Binacional. “Estamos nesse caminho com 30 técnicos, atendendo 22 associações, 7 cooperativas, e esse movimento vem crescendo. Há 10 anos eram apenas 7 associações, e hoje tem cooperativas que estão se unindo para formar uma rede de comercialização. Coordenar um projeto desse em quase 30 municípios com poucos técnicos é um desafio, mas buscamos ampliar mais com mais apoio do governo e outras organizações”, afirmou.

auditorio encontroMuitos participantes do Encontro vieram de até 1.500km de distância, deixaram seus afazeres, para se dedicar às atividades e debates. Esse esforço não se expressa apenas na quilometragem, mas sim de um processo de décadas na região celebrando a agroecologia no momento do encontro, afirmou Laércio Meirelles, do Núcleo Litoral Solidário da Rede Ecovida. A escolha de um caminho que muitas vezes foi criticado e até considerados loucos, com mudanças de hábitos e ameaças de morreríamos de fome, complementou destacando que é um prazer grande parte da região não contribuir para o Brasil ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.

“Essa feira expressa o prazer de dizer sim, as sementes crioulas com feijões coloridos que representam nossa cultura. E o prazer de dizer não aos mega empreendimentos empresariais e esquemas concentradores de distribuição dos alimentos. No primeiro encontro éramos 100 pessoas, e hoje somos 29 núcleos com 4 mil famílias, em torno de 300 grupos, associações, cooperativas, etc. Cerca de 120 agroindústrias certificadas. A Rede Ecovida não existe pela e para a certificação de produtos agroecológicos, se propõe a ser muito mais: promover a agroecologia para dentro e para fora. Estamos contentes, mas não satisfeitos. A luta de 30 anos atrás está longe de ter terminado, estamos buscando uma terra sem males contra uma corrente muito forte”, concluiu.

“Estamos neste momento importante de pensar um modelo diferente de produzir nossos alimentos, então é fundamental não só para nós mas também para as próximas gerações que virão. Nós, principalmente as mulheres, temos que pensar na vida, no ser humano, porque por natureza Deus nos deu um ventre para proteger nossos filhos por 9 meses e depois vem o sistema de produção que coloca veneno até no nosso leite. Não podemos ter vergonha de ser simples, a raça humana está sujeita à extinção se não tomar cuidado com a natureza”, alertou Carmen Lorenzoni, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).